sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Ser normal?



"Seu tempo é limitado, por isso não o gaste vivendo a vida de outra pessoa. Não fique preso pelo dogma, que é viver pelo o que as outras pessoas pensam ou querem. Não deixe o barulho da opinião dos outros abafar a sua voz interior. E mais importante, tenha coragem de seguir seu coração e sua intuição. Eles de alguma forma já sabem o que você quer ser. Todo o resto é secundário." - Steve Jobs







Oi. Você ai. Esse texto é exatamente e inteiramente pra você.

Não é estranho e meio absurdo que não conseguimos conversar? Ou concordar em qualquer coisa? Pra mim acaba sendo mais fácil escrever tudo o que tenho pra te dizer, tudo o que está entalado, tudo o que é necessário que eu fale, por mim. Para mim. Então, vamos lá.

Eu não me encaixo aqui. Eu não me encaixo em nada, eu me sinto como se estivesse completamente de fora e isso é mais do que não ter amigos ou ninguém pra conversar. Acho que isso é mais do que não ter um sonho ou algo ao que desejar. Por muito tempo eu achei (e às vezes ainda acho) que isso seja a depressão falando, esse pensamento que me faz desejar estar morta ao invés de aqui, desejar dormir por cinco anos ao invés de estar aqui... mas talvez, não seja bem assim. Eu só sou diferente, mas não sei se isso é bom ou ruim, tudo é relativo. Deixe-me tentar explicar um pouco melhor.
Lembra quando você era criança? Ou quando sua mãe era criança? Ou quando a mãe dela era criança? Você lembra como e quais eram os planos? Alguns podem ter mudado um pouco, mas em essência era mais ou menos assim:

Você nasce, cresce um pouquinho e vai pra escola e aí estuda, estuda, estuda e estuda muito pra conseguir passar no vestibular, pra entrar pra uma ótima faculdade, pra estudar mais um pouco, pra então sair da faculdade e conseguir um ótimo emprego... E ai sua vida começa. E ai você trabalha. E trabalha. E trabalha. E trabalha. Sempre recebendo o suficiente pra pagar as contas e comprar uma coisa ou outra no final do mês, mas nunca ganhando o suficiente pra realizar seus sonhos. E você continua trabalhando, em um lugar deplorável, fechado, nunca fazendo algo que você ama, mas continuando simplesmente porque não é algo que você realmente odeia e porque o dinheiro é bom. E você trabalha mais e mais, esperando que talvez, se agradar seu chefe e fizer seu trabalho direito você vai conseguir um aumento. E com o aumento vem mais trabalho, e mais trabalho e talvez um pouco mais de dinheiro, mas nunca dinheiro suficiente pra realizar aquele teu sonho. E você continua trabalhando, muitas vezes sonhando com a aposentadoria. Por que enfim você vai poder descansar e, lembra realizar aquele sonho com o dinheiro que vai receber. Opa, mas tem mais uma coisa, no meio disso tudo você vai conhecer um cara incrível, ou legal, ou normal, com quem você vai casar (ou ficar junto) e ter filhos. E aí o seu trabalho vai ser todo pros seus filhos. Seu dinheiro, seus sonhos, seu futuro. Tudo em volta dos filhos. Mas tudo continua o mesmo. Você trabalha, trabalha, trabalha, sustenta os filhos o suficiente ate que eles sigam os seus passos de estudar, estudar, estudar, trabalhar, trabalhar, casar, ter filhos, e trabalhar até morrer. Ou ate se aposentar. Por que ai quando se aposentar você vai poder seguir seus sonhos. Fazer aquilo que você sempre quis fazer. Aprendemos até em ciências, lembra? Nascer, crescer, reproduzir e morrer. 

Não é mais ou menos assim? Pelo menos é assim que eu entendo.
Mas não pra mim. Não pra mim. Será que você consegue tentar entender?
Todo esse lance de estudar numa ótima faculdade que eu não gosto pra conseguir um emprego medíocre onde vou fazer um trabalho inútil não me agrada nem um pouco. Nem se for trabalhar em algum lugar ótimo. Sei lá. Todo esse lance de ficar enclausurada em um lugar com gente que muitas vezes você nem gosta, por oito horas por dia, pra conseguir dinheiro pra enfim conseguir fazer coisas que você gosta. Parece meio maluco pra mim. Viu que eu larguei a ótima faculdade federal na qual eu passei? Não era pra mim, nunca vou conseguir explicar direito todos os problemas, mas não era pra mim.
Assim como trabalhar em um lugar só também não é. Ficar presa naquele ótimo emprego federal também não é. Eu acho que você talvez não consiga entender, mas nada disso que eu descrevi é pra mim. Faculdade, trabalho, marido, filhos. Não sou eu. Talvez algum dia seja, mas hoje, não é. Aí você vai me perguntar, o que você quer fazer com sua vida então??
Até semana passada minha resposta era simples, eu quero morrer. Simples assim. Eu já tinha imaginado como, quando e tinha todos os detalhes certos. Eu ia esperar que você fosse antes. Ou talvez te levasse junto. E o Billy também (quando eu pensei nisso ele ainda estava vivo). Você foi a única coisa que me segurou nesse mundo por tanto tempo. Simplesmente pelo fato de que eu não tinha coragem de te magoar tanto ao tirar minha própria vida. Então meus pensamentos eram sempre desse tipo, ‘quando minha mãe morrer eu vou pegar todo o dinheiro, ir pra Irlanda, e me jogar daquele lugar especial...é, aquele que é o meu papel de parede do computador no serviço. Meus livros vão pra Mariana e pra Talita. Meus filmes verdadeiros vão pro Junior.  Os outros pra sei lá quem. O resto das roupas pra caridade, junto com as instruções na carta do Gilsinho. E eu ia em paz me encontrar com você por que finalmente o meu sonho, o meu único sonho estava se tornando realidade. Eu ia morrer. E eu ia me jogar. Ou me enforcar. Ou tomar chumbinho. Ou qualquer remédio pra rato. Ou procurar algum tipo de remédio. Ou droga. Ou conseguir uma arma, eu sempre tive vontade de atirar uma arma. ’
Esses eram os meus pensamentos. Só esses, repetidos, levemente alterados, mas em essência, ainda eram esses. Até quinta feira eu achar que ia morrer. Aí tudo meio que caiu em perspectiva pra mim. Não era minha vida que eu queria acabar, mas é essa vida que eu preciso mudar. Em Grey’s Anatomy o chefe fala uma frase mais ou menos assim: ‘Se você precisa do seu trabalho pra ter uma vida... ou você precisa de um novo trabalho ou de uma nova vida’. Você não percebe as coisas e isso me incomoda um pouco, ou muito, mas essa é você, e tudo bem, não estou te culpando mesmo, você fez tudo certo e me deu tudo o que eu quis, mas minha vida ainda é infeliz. Eu vivo pra trabalhar pra ter dinheiro pra pagar as contas, e talvez um japonês e só. E talvez juntar pra fazer alguma coisa. Minha vida é assim e há muito tempo que eu estou infeliz assim. Não digo que o motivo seja o trabalho, mas hoje, ele ajuda já que eu odeio acordar pra ir trabalhar. E não acho que seja normal, como você acha. Que temos que viver desse jeito. Eu tenho vinte e três anos e minha vida é essa? Se for, sinceramente, talvez morrer seja melhor pra mim.
Não é normal nem certo que uma pessoa viva da forma como outras pessoas querem que ela viva. Seguir o que todo mundo diz que é certo, que é o que tem que ser. Que é assim que se faz. Estude. Trabalhe. Case. Tenha filhos. Trabalhe. Aposente. Morra. Pra certas pessoas, casar é um sonho. Ou ter filhos. Ou trabalhar em um banco. Ou numa empresa. Cada um é cada um e cada um leva a vida da forma que acha melhor, e eu não acho que esse seja o melhor pra mim. Eu não quero sentir que cada dia de trabalho é um sacrifício, eu quero ir trabalhar feliz porque eu amo o que eu faço. Ou não trabalhar, só fazer bico e ter dinheiro suficiente só pra sobreviver porque eu to vivendo meu sonho e isso é mais do que o bastante pra me fazer feliz.
Eu já pensei e já escrevi algumas cartas suicidas. Nunca te mostrei e acho que em um momento ou outro eu acabei destruindo elas, mas eu sempre estive ruim. Estive mal. E você não percebia, por quê? Por que você percebe quando Millena está mal e temos que fazer alguma coisa pra animar ela e distrair mas você não percebe que eu não to bem? Que você é a única pessoa que eu tenho pra conversar já que eu não tenho amigos e mesmo assim você mal olha pra minha cara já que você tá quase ganhando no Candy Crush? Ou Sidney Sheldon fez um livro maravilhoso que você se estressa se é interrompida? Ou a Ana Maria tá falando de alguma coisa muito importante e legal e dar pausa na tv te deixa estressada? Então como nós não conversamos eu vou te fazer aqui algumas perguntas que eu sempre quis te fazer.
Você é feliz? Feliz mesmo? Ou você está no automático? Acorda pra trabalhar, pra almoçar, pra jogar, pra trabalhar, fumar, voltar, jogar e jogar e ai dormir e repete o ciclo? Isso te faz feliz? Se te faz, ótimo. Que bom pra você. Mas se não... por que você ainda faz isso? Por que você se desgasta e quase tem um infarto de tanto estresse?
O que te motiva a levantar pela manhã?
Você já realizou todos os seus sonhos de infância, adolescência? Seus sonhos em geral?
Quais são seus sonhos?
A pessoa que você é hoje é tudo o que você imaginava ser quando era criança?
Você vive por minha causa? E eu vivo por sua? Se nossa vida for essa, tem alguma coisa errada.

Sou só eu que penso nisso tudo? Ou você nunca parou pra pensar nessas coisas em meio a tantas e tantas contas a pagar?

Já parou pra pensar que da pra ser feliz sem seguir o que todo mundo disse que era o certo? Eu já. E eu ainda estou pensando nisso. E ai você me pergunta, ‘por quê?’
Eu acho a vida muito curta, mãe. A qualquer momento eu posso ter um infarto. Ou ser atropelada. Ou um maluco sair atirando por aí. Ou eu ter um acidente de moto. Ou um câncer. E se hoje eu parar pra pensar que eu posso morrer amanhã, eu vou me odiar tanto porque eu nunca vivi. Eu não sou feliz trancada dentro de um quarto olhando pra tv, é como se eu estivesse num tipo de sonho quando estou assim, porque a vida das pessoas que eu assisto na tv são melhores que a minha. Eles parecem felizes e eu gosto de ver a felicidade deles.
Claro que deve ser ótimo trabalhar e ser rico e poder fazer tudo, mas trabalhar em algo que você não gosta só pelo dinheiro, é coisa de maluco.
Pensa bem. Se você soubesse que tem os dias contados. Que você tem uma doença e pode morrer logo, você ia querer continuar indo pro trabalho vendo aquelas pessoas que você não gosta? Você ia querer continuar naquele trabalho que te faz mal com pessoas que não apreciam seu valor? Eu acho que não. Eu acho que você ia largar tudo e ia fazer coisas que você gosta porque você tá quase morrendo. Eu acho que você ia andar pela vinte e cinco e gastar todo o LIS porque não ia ter que se preocupar com dinheiro mesmo.
Pensando nisso que eu cheguei onde estou agora. Eu posso morrer a qualquer momento e eu não quero morrer presa nessa cidadezinha sem nunca ter vivido. Sem nunca ter conhecido o mundo. Esse é meu sonho. Pode ser maluco, pode me deixar tão triste e incomodada como eu estou agora, mas eu tenho que tentar. Eu tenho que tentar viver por mim. E não pra você. Desculpe. Eu te amo muito mas eu não posso viver pra você e da forma como você quer que eu viva. Você pode vir comigo e tentar as coisas do meu jeito. A gente pode ficar dura sem ter o que comer, mas eu acredito de coração, que eu seria mais feliz dessa forma do que trabalhar presa fazendo um trabalho inútil pra ganhar dinheiro pra comprar coisas. Eu não quero comprar coisas. Eu adoro comprar coisas, não me leve a mal, mas o preço que eu pago hoje pra mim é muito mais caro. Porque, se por acaso eu morrer amanha, eu vou morrer infeliz, eu vou morrer sentindo que eu não vivi, eu vou morrer me sentindo como uma pessoa que não se sentia confortável na própria pele. Lembra uma frase que eu postei em inglês? Dizia o seguinte: Instead of looking forward to your day, your only focus is surviving it. Quer dizer, mais ou menos, ‘Ao invés de ficar ansioso pelo seu dia, seu único foco é sobreviver a ele. ’ Minha vida tem sido essa e eu não aguento. Eu preciso mudar. Eu quero mudar.
E eu não vou pedir. Não dessa vez. Você pode vir comigo ou me abençoar ou sei lá o que, mas eu tenho que tentar. Eu tenho que fazer alguma coisa ou eu vou ficar maluca. Você diz que não quer que eu faça as coisas sozinha porque está perigoso e coisas acontecem e pessoas são estupradas e mortas e eu concordo que é seu dever se preocupar. E que há coisas com o que se preocupar sim. Mas também é preocupante ser uma pessoa presa dentro de casa que nunca vive. Que pode morrer a qualquer momento também, mas que vive com medo das coisas. De tentar viver.
Eu descobri que eu não quero morrer. Mas eu quero e preciso viver. Viver de verdade. Viver pra valer. Eu preciso saber o que é acordar um dia e ter o dia pela frente e ser feliz com isso. Porque verdade seja dita, até quando eu não tenho que trabalhar e só fico deitada assistindo filmes como agora, eu não estou feliz, não estou vivendo.
Num discurso do Steve Jobs ele fala o seguinte: “Se você viver todos os seus dias como se fosse o último, um dia você acertará” E ele fala ainda mais, e essa frase foi a que mais mexeu comigo quando eu vi:
“Se hoje for o último dia da minha vida, eu gostaria de fazer o que eu vou fazer?”

Minha resposta é não. Seja no trabalho. Seja em casa. Seja considerando simplesmente mudar de trabalho. Eu não sou burra e sei que é preciso ter dinheiro pra sobreviver e por isso que trabalhamos tanto, mas talvez eu consiga unir as coisas que eu gosto e fazer algo que realmente me agrade. Que ME agrade. Eu preciso parar de tentar te agradar, ou agradar minhas primas, tias, tios, seilaquemqueéparente. Eu preciso parar de pensar nos outros e começar a pensar em mim. Eu quero deixar claro que eu sei de tudo isso, sei que o que eu quero fazer é maluquice mas se for me deixar feliz é tudo o que eu quero. Eu sei que pode ser perigoso, mas você sabia que não importa o que você ou eu façamos, as chances são que nós teremos câncer? Algum tipo ou qualquer tipo. É genético, então eu sei que eu tenho grandes probabilidades de morrer, por isso eu quero viver um pouco antes. Não quero ter que esperar me aposentar ou juntar muito dinheiro pra fazer as coisas. Eu quero descobrir as coisas conforme elas vão acontecendo e dando um jeito e sobrevivendo e aí quando você me ver sorrindo, você vai ter certeza, talvez pela primeira vez em quinze anos, que eu estou sorrindo de felicidade. Que eu sou feliz. E que enfim eu estou em paz. 

Eu espero. 




11 formas de ser completamente e incrivelmente normal:

1. Aceite tudo o que as pessoas te falam sem questionar.
2. Não questione autoridade
3.Vá para a faculdade porque você tem que ir e não porque você quer aprender algo.
4.Sente em uma mesa por quarenta horas para o equivalente a 10 horas de trabalho produtivo.
5.Viaje uma ou duas vezes na vida, sempre para algum lugar seguro e confortável. 
6.Faça o maior empréstimo para o qual se qualificar e passe 30 anos pagando por ele
7.Não tente aprender outros idiomas, as pessoas um dia irão aprender português.
8.Pense sobre escrever um livro mas nunca o faça.
9.Pense sobre começar seu próprio negócio mas nunca o faça
10. Não se sobressaia ou atraia atenção para si mesmo.
11. Supere obstáculos. Risque-os da lista. 

Você não tem que viver sua vida da forma que outras pessoas esperam que você a viva.


Texto de Chris Guillebeau, livremente traduzido por mim. 
Cartoon - ZenPencils


Acho que coloquei muitas frases e textos nos quais acredito, mas eles não me influenciaram na decisão que estou tomando. Eles me deram a força que eu precisava. Porque sinceramente?! Ou era isso ou era um caixão. E eu não quero morrer agora que tô começando a viver. Espero que você me entenda. E que não fique irritada, estressada ou sei lá o que. Eu tenho um plano. Eu quero ser feliz. Quer me acompanhar?
Te amo.