sábado, 23 de fevereiro de 2013

Gostava tanto de você

Sabe aquele momento que você percebe que sabe o teu caminho direitinho pelo cemitério? Parar e pensar em quantos funerais e enterros já foi. Acho que por mais que cada um de nós esperássemos, parece que um pedacinho teu ainda espera que fique tudo bem. 
Meus domingos nunca mais vão ser os mesmos, porque domingo sempre foi dia de ir visitar a vovó, comer sorvete de morango (feito em casa, o melhor sorvete que você poderia provar na sua vida!) e bolo, ou salgado, ou o que tivesse. Era dia de ouvir ela reclamando da postura. Ou elogiando alguma coisa. Aquela que quando você operou também já estava de cama, mas que não sossegava, perguntando toda hora se eu tinha comido, se tava bem, se precisava de alguma coisa. Coisa de avó. A que no ano passado me deu o único presente que eu ganhei no meu aniversário: Um pote de sorvete de morango e uma travessa de nhoque de frango que era a comida mais gostosa e que eu nunca vou comer outra vez. Não vou mais ver aquele sorriso bonito ou ouvir as reclamações dela ou os provérbios e dizeres, tinha um pra cada coisa. Não tenho mais minha madrinha que sempre dava um jeito de me dar alguma coisinha de presente não importava quanto fosse, nem que fosse só pra comprar uma calcinha e quando não tinha dinheiro, cozinhava. Porque era a melhor cozinheira que existia.
Apesar de toda a dor e tristeza, é bom saber que eu tive aquela vó, cabecinha branca, cozinha melhor que qualquer pessoa, costura melhor também. É aquela pessoa que fazia de tudo pra ajudar. É também aquela pessoa que reclamava de tudo, que se você fazia alguma coisa reclamava e se não fazia, reclamava também. Era aquela pessoa que tinha um caderninho do lado do telefone e anotava todas as pessoas que ligavam pra ela no aniversário e no dia da avó. 
Aquela mulher que você conheceu a sua vida inteira, mas ela teve que partir pra você ver como ela era uma mulher especial. Uma mulher forte. Que claro que tinha defeitos como todos temos, mas é aquele tipo de pessoa que você tem orgulho de dizer que conhece. 
Uma mulher forte, independente, que nunca dependeu de marido ou de ninguém pra se sustentar. Que fez tudo o que pôde pra manter os nove filhos saudáveis e com roupa no corpo. E depois vieram os 24 netos, que andavam quando pequenos com as melhores roupas feitas a mão que existia. Uma pessoa que trabalhou e fez de tudo pra ajudar quem pudesse. Aquela mulher que fez uma promessa que sempre ajudaria caso uma noiva estivesse em dificuldades pra fazer o vestido, claro que muitas vezes isso significava trabalhar por dias e não ganhar nenhum tostão, o que só a fez se tornar uma mulher ainda mais especial e querida.
Minha avó, minha vó Tunica foi e sempre vai ser, uma mulher incrível, maravilhosa e reclamona, e eu só tenho a admirar e tentar ao máximo seguir seus exemplos.

Você marcou na minha vida
Viveu, morreu
Na minha história
Chego a ter medo do futuro
E da solidão
Que em minha porta bate...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Something to believe in


                  É importante termos sempre com quem contar, aquela pessoa que não importa o que aconteça você chega e chama e pede conselhos ou só fala e deixa quieto, porque o importante naquele momento era o desabafar. Como já falei antes, eu não tenho isso, não tenho nenhum 'melhor amigo' que posso ligar a qualquer momento do dia e contar o que tá me deixando mal, acho que esse foi um dos motivos de eu ter criado o blog, pra eu ter um canto, mesmo que virtual onde eu pudesse confessar e desabafar tudo o que me aflige durante o dia. As coisas boas também, é sempre bom ter um lugar onde possamos dividir as nossas alegrias, né?! 
                  Mas algumas semanas atras eu li em um blog, (nem lembro mais onde foi por isso não coloco o link aqui) que dizia que o blog mais do que tudo não pode ser um confessionário, porque afinal de contas quem iria querer entrar em um blog só pra ler coisas depressivas?! Que todo blog, por mais que tenha um pouco do escritor tem que ter tambem coisas positivas, coisas alegres para fazer o leitor querer sempre visitar. 
                  Com isso em mente eu fiquei umas duas semanas tentanto imaginar algo bom pra escrever. E sabe quando você não consegue pensar em nada?! Não é pra parecer deprimida nem nada, eu sei que existem coisas boas na minha vida, coisas que eu agradeço por ter, mas sabe quando as vezes não é o bastante? Que a vontade do dia é só ficar na cama e não levantar por nada?! O primeiro pensamento do dia é 'quando eu vou poder voltar pra cama?' (sem brincadeira). Então fui enrolando antes de fazer outra postagem pois não queria falar disso. Aí eu parei pra pensar bem...esse é meu canto, pros meus pensamentos, certo?! Isso quer dizer que eu tenho o direito de falar aqui o que eu bem entender. Desculpa se isso vai incomodar alguém. Mas eu sou (ou estou) assim. Vontade de chorar a todo momento. Nervosa o tempo todo. Os melhores dias que eu tive em semanas, foi agora antes do carnaval que eu fiquei com dengue e tive que ficar a semana toda de cama (acabei emendando no carnaval e fiquei duas semanas direto na cama assistindo filme porque nem ler, que é uma das minhas maiores paixões eu conseguia - absurdo né?! Ficar feliz pois ficou doente. Mas enfim, é assim que eu estou.) Não tô pedindo que sinta pena de mim, nem que tente dar várias soluções (mas elas seriam benvindas!) É só um desabafo, porque quando você é pequena ou mais nova tem aquela pessoa que te olha nos olhos e vê que você não tá bem. Conforme você vai crescendo as pessoas param de reparar ou param de falar alguma coisa. E aí você se vê com aquele nó na garganta e sem ter ninguem com quem contar. 
                  Tô largando a faculdade, enfim tomei coragem, mas mesmo assim, por mais feliz e em paz que eu esteja com isso eu ainda fico nervosa e me sentindo culpada. Minha vó/madrinha está em estado terminal. Não estou com um relacionamento muito bom com minha mãe. Tô cansada o tempo inteiro. Tô sem ânimo pra dar aula. Sem ânimo pra estudar francês. Sem ânimo pra ler. Arrasada porque tentei fazer contato com minhas 'ex-quase-pra sempre amigas' do ensino médio, com quem eu podia contar pra tudo e com quem eu até me reaproximei esses ultimos meses mas que não estão nem aí. Eu sei que cada um tem sua vida e que eu não posso cobrar nada de ninguem, mas sabe aquelas pessoas que te falam que sentem sua falta e que querem te ver, mas que nunca, em momento algum fizeram o que quer que fosse pra mudar isso? As poucas vezes que nos encontramos foi porque eu organizei, eu que fui atras, eu que marquei, cansei disso. É injusto você ser sempre a pessoa que procura, e nunca a que é procurada.
                  Enfim, eu tô assim agora. Eu já estive assim por muito tempo. Mas parece que nada consegue consertar esse meu jeito, pelo menos agora eu tenho meu cantinho pra desabafar.


 "Eu não tinha interesse. Eu não tinha interesse por nada. Não fazia a mínina ideia de como iria escapar. Os outros, ao menos, tinham algum gosto pela vida. Pareciam entender algo que me era inacessível. Talvez eu fosse retardado. Era possível. Frequentemente me sentia inferior. Queria apenas encontrar um jeito de me afastar de todo mundo. Mas não havia lugar para ir. Suicídio? Jesus Cristo, apenas mais trabalho. Sentia que o ideal era poder dormir por uns cinco anos, mas isso eles não permitiriam."

Citação: BUKOWSKI, Charles. Misto quente. (tradução Pedro Gonzaga). Porto Alegre: L&PM, 2010, p.191-192.
Imagem: Foggy Park - Leonid Afremov